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Pela janela de um ônibus, no
caminho-enredo cotidiano, todas as coisas são iguais e todas as coisas são
diferentes todos os dias. Você pode ver um gato se equilibrando sobre a parede
fina de uma casa de dois idosos. Logo ali, você pode ver que esses dois idosos
conversam, cada qual no seu tamborete, pouca luz, a vida arrastando e a sombra
de uma craibeira fazendo parecer que a casa tem uma pintura de folhas. Imagina
que essa conversa, do outro lado do vidro, que nada te diz respeito, talvez
seja algo de muito incrível no dia daquelas pessoas. Vê, desse modo e de vários
outros, que as reuniões na calçada ainda são privilégios nossos. Vê o amor e
seu trabalho silencioso num pescador que tece sua rede todas as tardes um pouco
mais, num jovem que toca violão pra si e, do outro lado da ponte, numa mulher que
quara roupa em seu extenso varal enquanto uma criança corre entre os tecidos
molhadas. Você olha bem e assiste cada pessoa levando o infinito que a faz
viver. Sente mais uma vez o espectro de cores mágico que acompanha o sol em
seus últimos momentos de olho nesse lado do mundo. Mais uma despedida. Comunhão
de cores. Verso tecido pela eternidade.
Enquanto todas as coisas se movimentam,
você escuta sua música e ela dança com a paisagem. Você vê silêncios, sorrisos,
abraços, bêbados trôpegos, amantes, amigos. Frio. Calor. Olhares. Obrigações. A
lua e seu perpétuo desflorescer. Águas que inundam e recuam. Terra. Um pássaro que escolhe uma árvore. Uma árvore que só floresce de um
lado. Roseiras. Folhas que fogem pelo chão. Sinfonia de galhos. Novos passantes
e estradas antigas. Cenários que cantam. Espelhos. O céu com milhares de olhos
acesos e talvez eu esteja escrevendo isso porque um deles caiu. Foi bonito. Um
risco de luz no céu. Alguém mais viu? Mãos tocam esse céu com dedos de
pensamento e arte. Por toda a parte ando assim. “Quero o deslumbramento das
coisas simples”. Das cores. Das coisas. Dos movimentos. Dos sentidos e belezas.
Quero o encantamento da vida. Quero.
(devaneios escritos dentro de um
ônibus).
E agarramos, leve e fugazmente, sentidos na velocidade. Foi uma ligeira como o onibus em movimento, mas as imagens já ficaram. Fã n° 1.
ResponderExcluirTexto muito bonito e interessante 😊
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