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Mostrando postagens de outubro, 2014

infinidade

O sol surgia preguiçoso no céu que acordava. Os raios ainda madrugados ultrapassavam o telhado... Os passarinhos cantavam seu retorno, os galos trabalhavam... pra mim, era o dia ganhando movimento, ruídos, vibrações. Mais uma vez estreando seus contornos visíveis e invisíveis... Eu esperava outro sinal para levantar da rede. E lá estava ele em desenhos de som: O chinelo se arrastava barulhento pelo caminho, a passos que não desistiam nunca . Era isso a minha avó Ana. vi V er a vida, sua beleza, sem desistir. Eu pulava da rede, passava por baixo das outras, e corria pra cozinha aproveitando o cheiro espalhado do café. Lá, aquele sorriso falava... ... Há pouco mais de um ano nos despedíamos da guerreira que fora minha vó dona Ana. E o que sinto, não sei dizer. Ainda é dor. Mas os rastros libertários de amor iluminam as ruas escuras da ausência, quando a saudade pesa. --- A senhora sempre entendia os meus maiores sonhos, meus mais discretos sonhos. Quem sabe um dia

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Sinto falta do   a conchego daquele   tempo. Do   balanço   n a rede. Do olhar azul e   t ranquilo que por vezes me botou pra dormir. Sinto falta do leite atenciosamente morno. Do gosto paciente nos cuidados... Do agir tão delicado e afetuoso. Sinto falta do cheiro do café. Do feijão. Do “Luaninha”. De vê-la pela janela chegar. Falta de sentir medo e do lençol que misteriosamente me acalmava. Do relógio na parede, do rádio, do chão gelado, da simplicidade daquela casa. Sinto falta de percorrer   o u nem notar as horas deslizando, fugindo propositalmente nos domingos. Falta daquele tempo em que nada faltava. Um tempo em que mais gente me amava. Que   n ão existia saudade. Não existia ausência. Sinto falta da organização daquele antigo guarda-roupa. Da janela envernizada. Da árvore e das castanholas. Sinto falta das brincadeiras que eu inventava. Do perfume mais inconfundível. Do banheiro com luz divisora, dos vaga-lumes e até das batalhas entre grilos e lagartixas.