[...] Minha tia e sua máquina de escrever. Ela usa óculos. Está concentrada. E escreve... Deixando correr pela casa, entre canos e cimento, tijolos, parede e fundamentos, e também na poeira tão velha que descansa lá nos quartos lá de baixo, e nas dobradiças espelhadas à superfície das portas, e – sobretudo – no meu coração encostado no chão enquanto eu brincava, e por todo o casario vermelho porque sol... o ressoar do timbre pesado-leve dos acordes-letras. Eu criança parava. Imaginava... Que palavras partejava ela e a máquina? Que vida nascia? Pouco a pouco amando mais a palavra. Enxergando o seu milagre. E minha tia, num repicar sereno de letras, números e símbolos cifrados no silêncio barulhento da máquina-incrível... devia estar a fazer algo do seu trabalho para a escola. Não sabia que afagava com leveza sonhos futuros. Não sabia que, na inesgotável paisagem do tempo, tornava-se poema.
Imperfeitamente acreditei nela, e tive a decepção como resulta... Grandes nomes que eu admiro, dignos da repercussão mundial assim como, Albert Einstein, o teórico da relatividade, ou mesmo, um mais próximo como Machado de Assis, pai do realismo, são exemplos de gênios autodidatas, os quais eu enfoco em forte reflexão, cada um de seu modo encontrou suas vocações sem frequentar a escola diariamente. Esses foram um grande espelho pra mim nos últimos meses. Eu amo a minha escola, foi lá que conheci pessoas realmente preocupadas com meu futuro, que mesmo com poucos instrumentos ao seu favor, contribuíram para a mudança e a absorção de parte do que eu sou hoje. Foi na escola que professores transmitiram eficazmente os vários ângulos da supervivência; o mundo, como ele funciona, de quê nós seres vivos somos constituídos, como se deu nosso presente a partir da complexa história, porque é importante o uso da linguagem, seja o nativo, ou estrangeiro, porque a noção crítica...
Era domingo e o céu invernal meio alaranjado fez-me ver aquela terra como um sítio arqueológico de minha própria vida. Parece que cada árvore, compartimento, estrada e recanto oferecia um vestígio do que foi minha criação. Com o sol quase em total epílogo, vi nascer uma lua cuja origem me pareceu teórica demais. Nasceu no leste, vai desaparecer no oeste. Pensei. Porém, houve um tempo em que esperar a total escuridão da noite no sítio dos meus avós representava a êxtase das brincadeiras, o surgimento voluntário dos primos que viravam seres híbridos, ou seja, os lobisomens, na tentativa de suscitar medo, concebia a certeza do dia seguinte onde tínhamos uma jornada de realizações em que nenhuma incorporava responsabilidades. As chuvas torrenciais simbolizavam primeiramente súplicas, com o consentimento dado, à natureza proporcionava o resto. Com certeza era a liberdade. Debruçar-me sobre os perigos que a vida apresentava de forma tão intencional, sistemática e inoc...
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